domingo, 19 de janeiro de 2014

BATATINHA QUANDO NASCE


Os irmãos franceses Lumière, inventaram em 1895, um aparelho capaz de reproduzir numa tela o movimento, por meio de uma seqüência de fotografias. O cinematógrafo.
Tem ideia do que seja isso?
Cinematógrafo nada mais é que o nosso cinema de hoje em dia, e que em muitos lugares
já é chamado de Cine.

Algumas expressões conhecidas e frequentes na língua portuguesa, as quais foram e continuam sendo transmitidas de geração em geração já perderam suas formas originais há muito tempo, sendo substituídas por outras.

Quantas pessoas inteligentes, porém desatentas em relação as coisas que lêem e compartilham no Facebook...!
Um tempo atrás compartilharam uma foto, imagem, do cantor Ritchie afirmando que a música dele tinha a letra errada, ou seja, o que todos cantavam inclusive ele, estava errado. 
"Um abajur cor de carne", agora espalhado com muita ênfase e de repente, fazendo o próprio autor "ficar com dúvidas" em relação a sua própria autoria, pois a sua música agora tinha a "letra certa", "um abajur cor de carmim".
Site oficial do cantor: http://www.ritchie.com.br/discos/voo_de_coracao/menina_veneno .  Nunca né?!

Muitos que espalharam essas fotos, imagens, textos, nem sequer deram uma busca no site oficial do autor pra conferir a letra original, sim, a letra registrada. 
O certo é e sempre foi, "um abajur cor de carne". Site oficial do cantor
No momento a "imagem" compartilhada é "batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão". 
Fernando pessoa nasceu em Lisboa, no dia 13 de Junho de 1888, e faleceu em Lisboa, no dia 30 de Novembro de 1935. Por acaso, tem ideia do dia certo que foi escrito o poema "Batatinha quando nasce"? Nas minhas pesquisas ainda não encontrei o dia exato. E assim, como a escrita é antiga, espalha a rama (espalha a sua ramalheira), é a forma, o jeito, antigo de se falar esparrama. Sim, o que o povo entende hoje é que a batata quando nasce se espalha pelo chão, espalha a sua rama, ou seja, se esparrama mesmo.

Uma das definições para esparramar, pelo dicionário Aurélio é: Espalhar-se. 
Pode-se notar que tem a ver com a texto "batatinha quando nasce...", pois poderíamos até mesmo substituir a palavra esparramar, por espalhar, e então, "batatinha quando nasce, se espalha pelo chão" não perderia o sentido que hoje é entendido.

Eu li um texto onde um professor afirmava, "se a batata é uma raiz, como ela se espalharia pelo chão?" 
Respondendo com outra pergunta: Aonde está a licença poética? Será que os textos poéticos tem que fazer sentido em tudo que se quer dizer? E olha que esse texto é antigo hem!
Em nenhum momento do texto original, o autor se refere às batatas como nascimento científico. Ou seja, mesmo hoje é certo se dizer "batatinha quando nasce, se esparrama pelo chão". 

Já compartilhei tanta mentira que acreditei ser verdadeira que hoje, antes de compartilhar algo que aos meus olhos é a descoberta do "abacate em pó", busco a veracidade da mesma, pois assim, cresço em conhecimento e ninguém há de me engodar com mensagens spam, ou pelo menos ficará mais difícil.
Será que teremos de chamar o nosso bom e velho cinema, de cinematógrafo?

texto: Carlos Azevedo